Pensamento da semana

"But we're never gonna survive, unless we get a little crazy"

Seal - Crazy
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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Trecho do meu livro

Atendendo a pedidos por mais posts (não é Jéssyka?), resolvi postar algo hoje. Como não tinha pensado em nada, aqui vai uma parte do primeiro capítulo do livro que estou escrevendo. Isso não significa que um dia vou terminar de escrevê-lo, mas é uma possibilidade. Críticas serão bem vindas, mas não necessariamente acatadas. Enfim, sem mais delongas, aqui vai.


CAPÍTULO I - Antes de tudo começar (parte 1)

Essa é uma história que se passa numa terra muito, muito distante, num tempo muito distante antes do aparecimento das coisas modernas às quais estamos acostumados. Naquele tempo não existia luz elétrica ou carros movidos a gasolina ou internet ou telefones celulares. As pessoas ainda se comunicavam por cartas e ainda se conheciam pessoalmente e se reuniam para almoços de domingo feitos num fogareiro que queimava a base de carvão. Não parece ser possível, mas algumas pessoas eram felizes naquele tempo.
Mas naquele tempo havia Lílian Vládia, a mais bela filha do senhor Basílio Zacarias e da senhora Minerva. Na verdade, Lílian era a mais nova de sete filhos. Naquele tempo as famílias costumavam ser grandes, pois ainda não tinham inventado a TV a cabo e o computador estava longe de surgir. Assim, não existiam muitas opções para diversão nas noites com luar.
Mas enfim, Lílian era uma jovem recatada e meio sonsa (como a maioria naquela época). Tinha longos cabelos pretos e belos olhos castanhos e logo despertou a atenção dos jovens da região.
O fato é que poucos ousavam se aproximar de Lílian, pois seu pai Basílio era um rico comerciante da cidade além de ser um antigo membro da extinta Irmandade Pitagórica. Assim, os rapazes tinham certo receio do homem, mas ao mesmo tempo certo ar de desprezo. Afinal, não era toda hora que se podia encontrar um matemático, mesmo que amador, pelas terras do Sul. As pessoas tinham uma ignorância quanto a isso e acreditavam que era inútil estudar matemática. Era necessário apenas saber fazer contas simples para as transações comerciais e coisas do dia-a-dia e só.
Infelizmente, este pensamente persiste até hoje, mesmo depois da invenção do GPS.
Basílio era um dos mais prósperos e respeitados comerciantes da cidade e sua paixão pela matemática era coisa de seu passado, dos tempos em que era um jovem curioso e ávido por conhecimento. Mesmo naqueles tempos de juventude, não chegou a ser um grande matemático amador, nem muito menos profissional.
Hoje é apenas um pai de família dedicado e um comerciante preocupado por causa da recessão.
Lílian teve uma excelente educação, na medida do que era possível dar, visto que eles moravam nas terras do Sul. Mas seu Basílio tinha uma pequena biblioteca em sua casa com algumas dezenas de exemplares que ele comprara de comerciantes do Norte. Além do mais, ainda pagava professores particulares para todos os filhos e assim todos tiveram uma educação, podemos dizer, sólida.
Os cinco filhos homens foram estudar no Norte e formaram-se advogados e médicos. Já as duas filhas mulheres não deveriam estudar além do básico. Estavam predestinadas a serem donas de casa. Naquele tempo a sociedade ainda era machista. Alguns, é claro, não concordavam com isso e inventaram até uma tal Teoria da Fêmea Alfa que dizia essencialmente que os homens dependem das mulheres para tudo. Faz sentido, considerando que o homem depende da mulher para nascer. E pra ser corno também.
Aos doze anos Lílian encontrara os velhos livros de matemática do pai e resolvera estudá-los por conta própria, às escondidas. Quando o pai descobriu, levou uma surra de cinto da qual nunca esqueceu e chorou por quase uma hora. Na hora da janta, o clima estava meio tenso, mas seu Basílio tentou explicar com toda a calma que “essas coisas de matemática não são para mulheres”. De fato, naquela época quase não existia uma mulher matemática.
Lílian esqueceu o assunto totalmente. Mas sua curiosidade por conhecimento nunca morrera, estava sempre lá, adormecida, mas estava. Convenceu os pais que deveria fazer aulas de canto e assim consegui. Viu que não tinha talento, mas viu que podia tocar piano. Essa foi difícil de os pais engolirem, mas depois de muita insistência, lá estava ela tocando suas primeiras notas ensinadas pelo professor particular.
Um dia, porém, o tal professor faltou com respeito com a moça e ele acabou sendo expulso da cidade sob ameaças do pai de Lílian e seu tio, armados respectivamente com uma carabina e um facão.
Até que meses depois seu Basílio pensou: “Já está quase no tempo desta menina casar. Vou arranjar um noivo pra ela”. É, naquele tempo ainda existiam casamentos arranjados e Lílian já tinha dezoito anos, já tava na hora de casar. Não tardou para seu Basílio apresentar o noivo à filha, um tal de Manoel, filho de Miguel que também era um rico comerciante da cidade, muito amigo de Basílio. Lílian e Manoel se conheciam assim de vista, mal se falavam e de repente, não mais que de repente, estavam noivos. E naquele tempo o namoro ainda era no sofá da sala com a mãe do lado.
Também foi mais ou menos por essa época que Lílian começou a dar seus primeiros suspiros de amor, mas esses não eram pelo seu noivo arranjado e sim pelo pai de nosso herói principal. Seu nome era Paulo e tinha em torno dos seus vinte anos. Apareceu na cidade vindo numa caravana de comerciantes do Norte. Era bem aparentado, esbelto dos olhos azuis. Também era muito inteligente e sabia muita matemática, pois lera excelentes livros dados pelo seu pai. Este último, ao que parece, também era membro da extinta Irmandade Pitagórica.
Não demorou a que se conhecem e notassem que tinham coisas em comum, especialmente o gosto pela matemática. Apaixonaram-se um pelo outro e passaram a encontra-se às escondidas. E isso com o casamento com Manoel já marcado. Aconteceu que Lílian casou com Manoel, mas ainda tinha encontros com Paulo. A arte de ser corno é tão antiga quanto à humanidade.
O fato é que seu Basílio descobriu a fornicação da filha e quis resolver o assunto na faca. Para o bem de todos, e principalmente de Paulo, não aconteceu nada de mais grave. Apenas Paulo fugiu da cidade jurado de morte e Lílian nunca mais o viu. Mas isso não antes de deixá-la grávida.
Já Manoel nunca soube que um dia foi corno, pois resolveram poupá-lo da humilhação, até porque isso acabaria com o nome da família. Também nunca soube que seu primeiro filho de fato não era seu. Uma única vez estranhou a fato de o garoto ter olhos azuis, mas convenceu-se a si mesmo que isso era herança de seus parentes do Norte. O menino foi batizado como Leonardo e este é o nosso herói.
Lílian teve outras duas filhas, estas agora de Manoel, também belas crianças. No final de tudo, o casamento não foi o que Lilian sonhou. Ela descobriu que contos de fada são apenas contos de fadas e, pior de tudo, que seu marido roncava. Com sete anos de casamento, este já estava saturado. Um belo dia Manoel saiu de casa para comprar leite e nunca mais voltou, abandonando a mulher e os três filhos.

Um comentário:

  1. Nanzinho,mais uma vez com seu humor impagável...
    Já te disse q esse livro vai virar série de TV.No dia da noite de autógrafos me convida ta?

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