No meu último post eu prometi que ia escrever sobre a prova
da infinitude dos números primos usando Topologia. Hoje estou aqui para cumprir
minha promessa.
O fato de que existem infinitos números primos é algo
bastante conhecido. Os gregos já sabiam disso, o que reforça a tese de que eles
manjavam das putarias. Quando Euclides provou este fato, não havia dúvidas de
que estava correto. Tínhamos uma demonstração, e é o que bastava. Do ponto de
vista do rigor matemático, qualquer outra demonstração diferente desta, embora
válida, é totalmente supérflua. Mas isso tudo é balela. O fato é que os
matemáticos são criaturas estranhas o suficiente para gostar de ficar
procurando provas alternativas de resultados conhecidos. E isso é o que é
importante.
Fora Euclides, vários matemáticos conhecidos se orgulham de
terem sua própria demonstração da infinitude dos primos. Entre eles podemos citar
Leonhard Euler, Christian Goldbach e Paul Erdös. Mas uma demonstração em
particular chama a atenção por ser um tanto, como podemos dizer, curiosa.
Trata-se da demonstração do matemático israelense Hillel Fürstenberg. A prova
foi publicada em 1951 no periódico American
Mathematical Monthly e é bem simples na verdade. Ou talvez, simples para os
matemáticos.Veja o artigo aqui.
Hillel Fürstenberg: o cara manja das putarias |
Aviso Importante: A partir de agora começa a matemática de
respeito. Se você tem aversão a qualquer tipo de argumento matemático, é melhor
parar aqui, especialmente se você não conhece o Teorema da Bola Cabeluda.
Para cada $a,b \in \mathbb{Z}$ considere o conjunto
$$ N_{a,b} = \{a + bn; n \in \mathbb{Z} \}$$
Isto é, $ N_{a,b}$ é uma progressão geométrica infinita de
razão $b$ e termo inicial $a$. Eles constituirão uma base para a nossa
topologia. Isto é, um conjunto $A \subset \mathbb{Z}$ será dito um aberto se
$A$ for vazio ou se para cada $a \in A$ existir um $b > 0$ tal que $ N_{a,b}
\subset A$.
É claro que união de abertos é aberto. Por outro lado, se
$A_1, A_2$ são abertos (segundo nossa definição), então dado $a \in A_1 \cap
A_2$, existem $b_1, b_2 > 0 $ tais que $ N_{a,b_i} \subset A_i$ para $i =
1,2$. Daí, é fácil ver que $ N_{a,b_1b_2} \subset A_1 \cap A_2$. Ou seja,
intersecção finita de abertos é um aberto. Portanto isso de fato constitui uma
topologia para $\mathbb{Z}$.
Convém observar que todo aberto não vazio é infinito. Isso é
claro da definição.
Outra observação um pouco menos clara é que todo aberto
também é um fechado. Mas para ver isso, basta se convencer que
$$ N_{a,b} = \mathbb{Z}- \bigcup _{i = 1} ^{b-1} N_{a+i,
b}$$
Deixaremos ao leitor o prazer de verificar esta igualdade no
conforto e privacidade do seu quarto.
Assim, $N_{a,b}$ é fechado, pois é complementar de união
finita de abertos.
Você pode estar se perguntando: o que isso tem a ver com a
infinitude dos números primos? Até agora nada, mas agora eles entram em cena.
Sabemos que todo número inteiro $n \neq \pm 1$ possui um divisor primo $p$,
logo pertence a $N_{0,p}$. Seja $\mathcal{P}$ o conjunto dos números primos.
Então segue que
$$ \mathbb{Z}- \{1,-1\} = \bigcup_{p \in \mathcal{P}}
N_{0,p}$$
Se $\mathcal{P}$ fosse finito, então
$$\bigcup_{p
\in \mathcal{P}} N_{0,p}$$
Seria união finita de fechados, e portanto seria um fechado.
Mas então {1,-1} seria aberto não vazio e finito, contradição! Portanto,
$\mathcal{P}$ é infinito.
Pois é, esse Fürstenberg também manja das putarias.
Por hoje é só. Até a próxima.
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