Acho que não escreve a mais de uma semana. De fato, já havia dito que este semestre não escreveria muito. Cometi a loucura de colocar muitas cadeiras, sendo algumas realmente pesadas. Mas como (dizem quem) todo matemático é louco, isso é compreensível. Então vou tentar aproveitar este pequeno tempo livre para escrever qualquer coisa.
Mas que qualquer coisa escreverei. Bem, já falei muito de matemática neste blog (o que também é compreensível). Acredito que não falei muito de física, não tanto quanto queria ou deveria. Há ainda alguns assuntos que prometi escrever sobre, e que ainda não apareceram. E, em teoria, eu poderia falar sobre qualquer coisa que me desse na telha (o blog é meu, oras!). Mas acho que vou falar mais um pouco (e mais uma vez) sobre matemática (e educação).
Para ser mais preciso, vou voltar alguns dias atrás, quanto chego à universidade e me deparo com um cartaz. Era uma editora anunciando que precisava de especialistas para ajudar a escrever livros didáticos para o ensino fundamental. Somente graduados ou pós-graduados, o que me excluía disso. Apesar de não ter tempo para isso, achei que poderia ser uma atividade interessante (ou não).
Na verdade, todos os livros didáticos tanto do ensino fundamental quanto do ensino médio (por que não dizer do ensino superior?) precisam passar por uma revisão. Não sei exatamente a situação das outras disciplinas, mas os livros didáticos de matemática estão numa situação entristecedora. Eles simplesmente ensinam matemática da maneira errada. Isso desde a base. E isso é um dos motivos (não o único, é claro) para o fraco desempenho de nossos alunos nesta disciplina.
Não sou eu quem diz isso. Existe um livro publicado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) que examina minuciosamente as principais coleções de matemática adotadas no ensino médio das escolas brasileiras. O resultado foi o livro 'Exame de Textos: Análise do livros de Matemática para o ensino médio'. Vou colocar com minhas palavras, mas digamos que o livro conclui que a maioria das coleções simplesmente não serve para ser adotada em sala de aula, por conter erros horríveis. Não somente erros na didática adotada ou erros de edição, mas erros de matemática mesmo. Erros crassos e absurdos.
Uma geração que estuda matemática com estes livros terá uma formação matemática insuficiente, debilitada, fragmentada, descontextualizada e desconceituada (acho que essa palavra não existe, mas eu invento agora). Em geral, o aluno aprende fórmulas e métodos para resolver problemas e não matemática. Ou seja, o aluno se tornará (se é que chegará a pelo menos isso) um mero manipulador de números e símbolos que no fundo não fazem nenhum sentido para ele. Matemática de verdade, quem é bom, passa é longe. Trágico.
Não vou entrar em detalhes sobre o livro. Quem quiser pode lê-lo e ver por conta própria e tirar suas próprias conclusões (momento merchan gratuito). Mas é óbvio que isso é um dos motivos para o ódio generalizado que os alunos têm pela matemática, porque de fato eles não a compreendem.
Isso é ruim por que o futuro da ciência passa pela matemática. Chegará um tempo em que saber matemática será quase uma necessidade primária. Faz-se urgente, então, reformar completamente nosso sistema educacional (isso em geral) e escrever bons livros é um começo razoável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário