Pensamento da semana

"But we're never gonna survive, unless we get a little crazy"

Seal - Crazy
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domingo, 9 de dezembro de 2012

Capítulo III - parte 3

Talvez você não saiba, mas eu estou escrevendo um livro. Estou inclusive postando ele aqui no blog. Tá, faz tempo que não posto ele aqui, mas isso porque faz tempo que não escrevo nada. Resolvi dar continuidade a trama. Só que não vou mais continuar postando aqui no blog. Afinal de contas, talvez um dia eu termine o livro e o edite. Porém, para não ficar a coisa meio incompleta, vou postar aqui a última parte do 3º capítulo.


CAPÍTULO III - Como tudo começou (parte 3)



- Então, Sr. Peregrino, – dizia Lílian enquanto passava o café – ainda não compreendi direito o seu interesse no meu filho...
 - Sim, acredito que não deixei claro este ponto ainda. O fato é que ouvi histórias sobre a inteligência precoce de seu filho na cidade e gostaria de confirmar isso pessoalmente. Casos assim são raros e, a minha crença, é que pessoas como ele devem ter uma sólida formação intelectual, sabe, estudar nas melhores universidades, ler os melhores livros...
- Meu filho teve uma excelente educação, na medida do que foi possível – cortou Lilian.
- E eu acredito nisso, senhora. Mas o fato é que ele precisa de mais. Conhecer lugares novos, estudar com grandes mestres, para, quem sabe, também se tornar um grande mestre no futuro. Eu acho que o melhor para ele seria ir estudar em uma universidade do Norte.
- Mas ele é tão jovem, tem apenas quatorze anos...
- As mentes jovens são as que estão mais abertas para o conhecimento. Um dos grandes problemas do mundo é que as pessoas permitem que suas mentes envelheçam junto com seus corpos. Quando se tornam adultas elas se esquecem daquela curiosidade ingênua que costumavam ter crianças, aquela curiosidade ingênua que permitiu que compreendessem o mundo.
Nesse instante, Lilian sentiu tocada pelas palavras do Peregrino. Ela sabia que aquela era uma afirmação genérica, mas estranhamente achou que aquelas palavras foram dirigidas especialmente para ela. Ela lembrou-se da própria curiosidade ingênua que costumava ter, e que deixara morrer. Sentiu que não era justo permitir que o mesmo acontecesse com seu filho. E sentiu também o inebriante cheiro de café recém passado.
Ela serviu o convidado.
- Huummm. Esse foi certamente um dos melhores cafés que já tomei. Muito bom mesmo.
- Quem bom que o senhor gostou. Mas voltando ao assunto, não sei se devo permitir que meu filho saia por aí, por esse mundo injusto e perigoso...
- Sua preocupação de mãe é totalmente compreensível, mas acredito que essa é decisão que deve ser tomada conjuntamente com seu filho.
E ao dizer essas palavras João olhou em direção à porta da cozinha. Leonardo estava o tempo todo escondido por detrás dela ouvindo toda a conversa. Lilian não percebera isso, mas João já havia notado sua presença há algum tempo.
- Vamos, pequeno garoto prodígio, entre e dê a sua opinião sobre o assunto, afinal de contas você é o assunto e, por conseguinte, deve ser o maior interessado.
Leonardo entrou o foi logo fazendo uma observação:
- Não gosto do jeito que tu fala. Parece correto demais.
O Peregrino não se deixou abalar por essas palavras:
- Mas e da idéia de sair em busca do conhecimento, tu gostas?
Leonardo meio que hesitou um pouco. Sabia do que queria, mas uma pitada de orgulho gerou uma leve hesitação.
- Sim, gosto – respondeu por fim.
- E estás disposto a deixar família e amigos em favor desta jornada em busca do conhecimento?
As palavras do Peregrino evidentemente faziam a coisa parecer mais séria do que realmente é e tanto Leonardo quanto Lilian sabiam disso. Mesmo assim, uma expressão de preocupação tomava o rosto da mãe. Já o rosto de Leonardo refletia uma expressão que era um misto de reflexão profunda com o pensamento “será que esse cara bebeu ou ele é assim mesmo naturalmente?”. Depois de um silencio de alguns milissegundos que pareceu ser de alguns segundos, a mãe tomou a iniciativa da palavra:
- Senhor Peregrino, agradecemos a sua boa intenção, mas acho que não podemos aceitar sua proposta...
- Na verdade, podemos sim – cortou Leonardo, com um indubitável tom de segurança e decisão.
A mãe foi tomada de surpresa pela resposta do filho. Leonardo sempre teve esse gênio de rebeldia e auto-suficiência. Numa troca de olhares rápida, a mãe teve a certeza da certeza do seu filho a respeito da sua decisão. Não podia fazer nada. Na verdade, podia, pois afinal, ela tinha a autoridade legal sobre ele, mas não seria justo. Ela não queria cometer o mesmo erro que seu pai cometera.
- Então, é isso que você realmente quer, filho.
- Sim, mãe. É isso que eu quero. Quero estudar muito, para ser o homem mais inteligente do mundo!
Mas um pequeno momento de silêncio que pareceu maior que realmente foi.
- Então, estamos decididos? – perguntou João meio que retoricamente, só para confirmar.
- Sim – responderam a mãe e o filho simultaneamente.
- Muito bem, eu ficarei aqui na cidade mais três dias, depois partirei. Ou melhor, partiremos. Vale frisar que tu podes desistir da idéia a qualquer momento, e eu não poderei fazer nada quanto a isso. Mas espero sinceramente que tu sigas em frente.
Disse isso, levantou-se, agradeceu pelo café, e foi embora.

A notícia logo se espalhou pela cidade. Não se falava em outra coisa. O avô não gostou nada da idéia, mas não poderia fazer nada. Na verdade, até poderia, mas não quis. Durante esses três dias, Leonardo não viu ou falou com o Peregrino. Esse estava muito ocupado aproveitando a vida boemia da cidade.
Na manha do terceiro dia, porém, lá estava Leonardo, sua mãe e suas irmãs na frente da Casa da Mãe Joana esperando pelo Peregrino. Eles iriam partir da cidade junto com a caravana que chegara cinco dias atrás. O avô não quis vir, pois achava que se ficasse cara a cara com o tal João seria capaz de... Em fim, não sabia do que era capaz, mas sabia que seria capaz. De qualquer modo, Senhor Basílio ofereceu dois cavalos de presente a Leonardo para que ele e João pudessem utilizá-los como transporte.
Houve o momento de despedida. Vou pular essa parte, por ser melosa demais.
E enfim, eles partiram.
O primeiro dia de viagem foi tranqüilo. Na verdade, tranqüilo até demais pro gosto de Leonardo. Ele também não gostava muito do fato do Peregrino ser um homem de poucas palavras. Mas no fundo, ele sabia que João estava planejando alguma coisa inesperada e que ele iria gostar disso. E de fato, na primeira noite, enquanto a caravana acampava e dormia aconteceu a coisa inesperada.
João acordou Leonardo no meio da noite:
- Ei, acorde, garoto precisamos ir.
- Já é de manha? – disse Leonardo, ainda com sono. – Oh, ainda é de madrugada. Não deveríamos esperar amanhecer?
- Não se quisermos sair sem sermos vistos.
Leonardo começou a gostar do assunto, mas ainda não entedia o que estava acontecendo.
- E por que queríamos sair sem sermos vistos?
- Por que não vamos viajar com esta caravana. Temos outro destino. Agora, te apronta depressa, mas com cuidado pra não acordar ninguém.
Meia hora depois, lá estavam Leonardo e João cavalgando sozinhos sob a luz da Lua e das estrelas.
- Pra onde estamos indo, Peregrino? Pensei que seguiríamos para o Norte, junto com a caravana.
- O Norte é o seu destino final, Leonardo. Mas não seguiremos diretamente para aquelas terras. Precisamos desviar nosso caminho pelas Terras do Leste, primeiro.
- Por quê?
- Por que primeiro precisamos conhecer um homem que vive em algum lugar daquelas Terras.
- E o que esse homem tem de especial?
- Ele tem os mais belos jardins cultivados conhecidos. E sabe muita matemática.
Leonardo limitou-se a dizer um simples “humm...”. E assim seguiram seu caminho.
E assim começou as aventuras do nosso herói.

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