Pensamento da semana

"But we're never gonna survive, unless we get a little crazy"

Seal - Crazy
.

quarta-feira, 28 de março de 2012

I gotta theorem

Você pode até não acreditar, mas Música é Matemática. Isso é coisa certa desde os tempos de Pitágoras. Mas Matemática também é música. Já até postei algumas aqui, como por exemplo, Finite simple group of order two. Aqui tem outro, igualmente engraçado. A montagem é tosca, a voz dos cantores mais ainda. Mas enfim, talvez seja bom você perder um pouco do seu tempo assistindo isso. Ou não.

terça-feira, 27 de março de 2012

10 Mandamentos da Matemática


Eu prometi a vocês (e a mim mesmo também) que ira escrever mais neste blog. Esses últimos dias, porém, foram um tanto corridos então não tive tempo de pensar em algo pra escrever. Na verdade, até comecei a escrever a terceira parte do capítulo três da história que vocês estão acompanhando aqui no blog, mas eu o fiz numa folha de caderno e ainda não tive tempo para digitar. Além do mais, estou com preguiça para fazer isso agora.
Por isso resolvi postar algo que vi na internet. Na verdade vi no Facebook, mas esse detalhe é irrelevante. Essa é em homenagem aos matemáticos. Se você não sabe, Matemática é quase uma religião. Por isso conheça os

10 Mandamentos da Matemática

I - Começarás contagem pelo zero;

II - Derivarás e igualarás a zero;

III - Amarás o Cálculo como a ti mesmo;

IV - Não levantarás falso teorema;

V - Não cobiçarás a demonstração alheia;

VI - Honrarás [\epsilon;] e [\delta;];

VII - Não Matarás Aulas;

VIII - Não dividirás por zero;

IX - Usarás letras difíceis como variáveis;

X - Sujar-vos-á de giz ao escrever no quadro.

Amém!

sábado, 17 de março de 2012

Capítulo III - parte 2

CAPÍTULO III - Como tudo começou (parte 2)

Já próximo da hora do almoço quase todo mundo da cidade já sabia as chegado do Peregrino. Esse tipo de notícia corre rápido, em parte por que as pessoas daquela cidade passam boa parte do dia falando da vida dos outros. Não por que elas não tenham nada melhor para fazer, mas por que elas pensam que não têm nada melhor para fazer, o que é bem diferente. João, é claro, percebia isso, mas não se preocupava. Achava apenas que isso é perca de tempo. Existiam coisas mais importantes para focar a atenção que a vida dos outros. Afinal, salvo talvez raras exceções, se preocupar com a vida dos outros não vai tornar a sua melhor.
João era meio calado, na dele. Quase não falava com os outros. Havia realmente algo de estranho com ele, mas não era isso. Já estava na hora, porém, de ele começar a interagir mais com os locais. Na hora do almoço ele estava mais falante. Ele matou parte da curiosidade alheia e contou um pouco sobre sua história. Disse que nasceu nas Terras do Norte, mas isso era óbvio. Não especificou, porém, a região. Quando disse que era filho de mãe solteira as pessoas ficaram meio espantadas. Esse tipo de coisa não pegava bem. João sabia disso, mas não estava nem aí.
- Então você não sabe quem é o seu pai? – perguntou a filha da Dona Joana.
- Sei apenas o seu nome e o que ele fazia.
- E o que ele fazia.
- Era mercenário.
Ao ouvir a palavra “mercenário” algumas pessoas na mesa sentiram uma leve sensação de arrepio. Assumiram, então, inconscientemente, que João era uma pessoa que merecia respeito por ser filho de seu pai. Não perguntaram mais nada. Então João aproveitou a deixa e perguntou onde morava o tal menino que sabia matemática. Ficava do outro lado da cidade, mas não que isso fosse muito longe.

A essa altura seu Lílian também já estava sabendo que João, o Peregrino, estava na cidade. Na verdade, isso não era algo de mais. Aquela cidade era rota conhecida de caravanas de comerciantes. Era comum o fluxo de pessoas por lá. Mas estranhamente, só se falava nele naquele dia. E então de repente, não mais que de repente, batem à porta da casa de Lilian. Era o Peregrino.
- Boa tarde, minha boa senhora. Você é Lílian? – perguntou João assim, bruscamente.
- Sim – respondeu Lílian, meio sem convicção – E o senhor quem é?
- Ah, mil perdões. Deveria ter me apresentado antes. Meu nome é João, o Peregrino. Filho das Terras do Norte e andarilho do mundo.
- E o que o senhor deseja?
- Eu gostaria de conhecer o seu filho. E de tomar um café, se for possível.
- Por que?
- Porque eu adoro café.
- Não, digo, por que quer conhecer meu filho?
- Porque acho que ele é um gênio e que o lugar dele não é aqui. Ele precisa enveredar pelos caminhos do conhecimento e ficar aqui, morando nesta cidade a vida toda, não é o caminho.
Por alguns instantes ouviu-se um silêncio. Lilian não dizia nada, mas estava claramente pensando. De repente ela respondeu:
- Como quer o seu café?
João sorriu.
- O melhor que a senhora puder me oferecer.
E então Lílian convidou o estranho para entrar. Ela não tinha certeza, mas sabia que, em seu íntimo, que era isso que deveria fazer.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Ônibus lotados, uma xérox, uma folha de caderno e o sentido da vida.


Qual o sentido da vida?
Caramba, dois ônibus seguidos e ambos lotados. Agora chegou uma topique também lotada. De onde saiu tanta gente? Os carros passam. O tempo passa. A vida passa. Até uva passa. E eu aqui sentado escrevendo.
Escrevo com dificuldade. Não no sentido metafórico da coisa. É no sentido denotativo mesmo. Sou canhoto, mas estou escrevendo com a direita. Estou treinando para ser ambidestro. Minha letra tá horrível. Não sei nem como consigo entender. Mais um ônibus lotado.
São 8:04 am. Se alguém naquele ônibus tem aula às oito já está atrasado. Na verdade, isso é bem comum. Também peguei um ônibus lotado, mas era mais cedo, por volta das 7:30. Tenho minhas dúvidas se o antigo Paranjana era tão lotado. Se bem que não dá pra comparar muito. Eu pego o ônibus que circula no Campus do Pici todo dia. Já o Paranjana, eu só tive o desprazer de pegar ele três vezes. Enfim, ambos são lotados.
Minha letra tá pior que a do Faustão. E esses mosquitos voando ao redor do meu rosto são muito chatos. Agora são 8:11. Isso quer dizer duas coisas: que eu estou escrevendo devagar e que se a xérox abre as 8, já deveria estar aberta. Dois ônibus de duas topiques acabaram de passar lotados. É compreensível então porque as filas do RU andam tão grandes esse semestre.
Uma moça acabou de me perguntar a que horas abre a xérox. Também gostaria de saber. Já é a terceira vez que venho aqui e o livro que mandei imprimir ainda não está pronto. Estou puto da vida por causa disso. Nunca mais mando imprimir nada aqui. O serviço é caro e demora para sair. Sinceramente, isso é falta de respeito para com o cliente. Já me ocorreu a algum tempo que a xérox abre as 9. É só uma vaga idéia, mas dados os fatos é provável que seja verdade.
O minúsculo pedaço de papel no qual eu estava escrevendo não tinha mais espaço para escrever. Passei uns 15 minutos sem escrever. Nesse meio tempo, passaram uns 6 ônibus, todos lotados. Então pedi uma folha de caderno emprestado de uma moça que também está aqui esperando a xérox abrir. Ela acabou de ir embora. Só não fui embora ainda porque estou escrevendo isso. Escrever pode ser uma boa terapia e um bom passatempo.
Mais outro ônibus lotado, mas desta vez nem tanto. O pessoal da xérox já está aqui, mas ainda não abriram. Aparentemente, estão esperando o dono. Estão conversando sobre o trabalho. Ao que parece, trabalhar numa xérox não é o melhor ofício do mundo. Particularmente, eu concordo com essa idéia, embora nunca tenha trabalhado numa xérox.
Percebi que não estou escrevendo um parágrafo. Isso é esteticamente feio, mas visto que minha letra está horrível, isso não faz muita diferença. Mesmo assim, quando eu for escrever isso no computador, vou fazê-lo em parágrafos. Outro ônibus lotado, mas comparado com os primeiros, esse é o paraíso.
O cara da xérox colocou Mamonas Assassinas pra tocar no celular. Mamonas é massa. Uma pena que tenham morrido. Amy morreu. Michel morreu. Witney morreu. Por que Luan e o outro Michel (o brasileiro) estão vivos? Agora o cara botou Katy Perry. É legalzinho, mas prefiro Mamonas.
Acho que esse texto tá uma droga. Acho que fiz qualquer coisa, menos escrever. Eu poderia estar estudando, mas estou aqui esperando uma porra de uma xérox abrir para pegar o livro. Já vai ter prova quarta.
Outro ônibus lotado. Como é possível haver tanta gente? Já somos sete bilhões.
Uma esperança. Acho que vão abrir a xérox. Aparentemente estão abrindo tarde hoje. Hum, ainda não são 9. Esquece o que eu disse, estão abrindo no horário.

Estou agora na cantina da matemática. São 11:35 e estou esperando a galera para ir almoçar. A filado RU deve estar enorme agora. Trágico. Como é que a Universidade quer se expandir se não tem estrutura física?
Ah, sim! Como eu temia, o meu livro que mandei imprimir ainda não está pronto. Estou indignado. A moça da xérox deu uma desculpa qualquer e disse que ficaria pronto amanha. Veremos.
Acho que já está na hora de acabar com esse texto. Não queria fazer isso sem explicar porque comecei com “qual o sentido da vida?” Não existe nenhum motivo mais profundo para isso. Simplesmente escrevi, sem nenhum compromisso. Naquele momento não pensava eu que viria a escrever tudo isso. Com a mão direita ainda mais.
Só para constar, o sentido da vida é 42.

Fac-símile da folha de caderno que pedi emprestado para escrever parte desse texto. Agradeço a moça que me emprestou, embora eu nem a conheça. Vejam como minha letra com a direita é horrível!


domingo, 11 de março de 2012

Capítulo III - parte 1


CAPÍTULO III - Como tudo começou (parte 1)

Era início de noite e caía uma fina chuva sobre a cidade, depois de um dia inteiro de sol, mas isso não é importante. Pela manhã, um doido qualquer caiu do segundo andar da casa da amante e quebrou a clavícula, mas isso também não é importante. Naquele mesmo fatídico dia uma caravana de comerciantes do Norte veio do Norte (claro) trazendo todo tipo de especiarias e produtos caros do Norte que só os mais ricos senhores do Sul tinham dinheiro suficiente para comprar. Isso, porém, também não é importante.
Naquela noite um forasteiro deu entrada na pequena pensão de Dona Joana e isso é importante.
O cara parecia boa pinta, acima de qualquer suspeita, mas definitivamente havia algo de estranho nele, embora ninguém soubesse exatamente o que fosse. Era alto, branco e de olhos verdes descrição que inegavelmente descreve o mais puro filho das Terras do Norte. Tinha o olhar penetrante, mas ao mesmo tempo distante, direi eu que era como se estivesse a todo tempo analisando a trajetória de cada partícula de poeira que se movia ao redor, se isso fosse possível. Outros diriam que ele era autista, ou mesmo louco, mas isso obviamente seria exagero.
Outros ainda diriam que agora ele não parece acima de qualquer suspeita, mas bastariam dois minutos de conversa com o sujeito para perceber ele é apenas uma pessoal normal que parece estranho às vezes, o que na verdade, não deixa de ser algo normal. Estranho seria se alguém nunca parece estranho às vezes, porque tudo mundo parece estranho a algum estranho ou diante de alguma situação estranha.
Mesmo assim, havia algo de ligeiramente estranho nesse cara.
Ele entrou na pensão pela porta da frente, o que é bastante natural. Isso era por volta de seis e meia da noite e havia dois ou três hóspedes na sala, fora Dona Joana que era a dona da casa. O forasteiro estava molhado, a água escorria pelo seu chapéu e caía no seu rosto. Os poucos hóspedes que estavam na sala olharam-no de uma maneira que era como se dissessem “poxa, esse sujeito molhado vai estragar o carpete”. O sujeito olhou-os de uma maneira que era como dissesse “isso não é importante”, deu um sorriso que reforçaria a última frase e dirigiu-se ao balcão.
 - Com licença – disse ele à bela moça que estava em pé no balcão – isso aqui é uma pensão, não é?
É claro que ele sabia que aquilo era uma pensão, pois estava escrito em letras garrafais em uma placa de madeira acima da porta principal “Casa da Mãe Joana – Pensão e Hospedaria”. Ele disse aquilo apenas para iniciar a conversa.
- Sim, claro. – disse a bela moça do balcão – O cavalheiro deseja um quarto?
O sujeito achou que aquilo parecia uma pergunta retórica, mas como ele mesmo perguntou uma besteira similar segundos atrás, deixou por isso mesmo.
- Sim. – respondeu com um tom meio abestalhado, mas na verdade estava apenas pensando no que diria depois – Presumo que a senhorita não seja a Mãe Joana.
- Não, sou filha dela. Você quer que eu a chame?
- É preciso que ela esteja aqui para que eu consiga um quarto?
- Não, eu posso fazer.
- Então não há necessidade de chamar a sua mãe.
Realmente, não havia. Naquele momento, porém, Dona Joana entrava na sala e ela mesma cuidou de atender o forasteiro.
- Qual o seu nome, meu rapaz?
- João, o Peregrino.
- Mas eu preciso do seu nome completo.
- Ponha como eu disse. Todos saberão de quem se trata.
No dia seguinte estava tudo mundo falando do forasteiro. Curiosamente, ele não estava nem aí para os olhares curiosos que o fitavam no café-da-manhã. Também curiosamente, ninguém se atrevia da perguntar nada. João, o Peregrino, percebeu isso e cogitou se falava alguma coisa para iniciar a conversa. Depois não gostou da idéia e tomou um copo de café.
- Muito bom o seu café, Dona Joana – falou, afinal.
Dona Joana agradeceu. Ficou por isso mesmo.
- O que tem de interessante aqui nesta cidade? – perguntou de uma maneira que tentou não parecer desdém. De fato, não era e nem pareceu ser.
Mas também era fato que não havia nada de muito interessante naquela cidade. Era uma cidade como qualquer outra. Tinha uma praça, uma Igreja Matriz, uma Prefeitura, casas, comércio (esta última principalmente). Coisas bem comuns. Por alguns instantes houve um silêncio.
E então de súbito a filha de Dona Joana falou algo que achou que poderia interessante.
- Tem aquele menino que sabe matemática.
Os olhos de João revelaram um interesse súbito.
- Quem? – perguntou ele.
E então lhe contaram sobre o pequeno Leonardo, que naquela época já não era tão pequeno. Tinha então quatorze anos. João ouvia a história com atenção. No final ele tomou o último gole de café e comentou, resoluto:
- Preciso conhecer esse rapaz.
Já tinha o que fazer naquela manha.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Receita de Mulher


Certamente você sabe que hoje é o Dia Internacional da Mulher. Parabéns a todas vocês! Sem as mulheres os homens não são nada. A maioria deles não admite isso, mas eu tenho a coragem de dizer isso. Entretanto, hoje estou meio sem saco para escrever. A inspiração ainda não veio. Em vez disso, deixarei que Vinícius de Morais fale. Ele faz isso muito melhor que eu.

Uma rosa para você, mulher



Receita de Mulher
 Vinícius de Morais

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce
relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável.